SÃO LUÍS - O Hospital São Domingos comemora o reconhecimento internacional de mais uma ação inédita adotada em prol da melhoria da qualidade de vida dos seus pacientes. Trata-se do Diário de UTI, cuja utilização pioneira pelo HSD é reconhecida pela Organização Não-Governamental (ONG) alemã ICU-Diary. Segundo a entidade, o São Domingos é o primeiro hospital do Brasil e o segundo da América do Sul a implantar o Diário de UTI de maneira formal e a fazer parte da rede mundial de troca de informações sobre o tema mantida pela ONG internacional.
De acordo com o coordenador da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital São Domingos, Dr. José Raimundo Azevedo, o Diário de UTI é uma ferramenta eficiente que pode ajudar na recuperação do paciente e na melhoria da sua qualidade de vida. "O Diário de UTI, como o nome diz, é um diário físico no qual são registrados pelos médicos, assistentes, enfermeiros e outros profissionais da área da saúde e também pelos seus familiares momentos em que o paciente obteve vitórias durante a permanência na UTI. Não há registro de problemas ou situações desagradáveis. Escreve-se, por exemplo, sobre visitas, aniversários do paciente ou de familiares e fatos marcantes e positivos ocorridos durante sua internação, como formatura de um filho, orações pela sua recuperação e outros", detalha Dr. José Raimundo Azevedo.
O médico explica ainda que o paciente de UTI, por passar parte do tempo sedado ou inconsciente, perde um pouco a noção do que é sonho ou realidade. Isto faz com que ele durma menos, tenha mais depressão, ansiedade e ocorrência da síndrome de stress pós-traumático, que geralmente acomete pessoas que passam por grandes tragédias. "O Diário ajuda a minimizar esses problemas pois serve para ajudar a recuperar a memória do paciente, mostrando-lhe momentos vitoriosos e que podem servir de estímulo para sua retomada de vida normal, após a alta", complementa ele.
Alta crescente
Dr. José Raimundo Azevedo informa ainda que os avanços na Medicina Intensiva resultaram em um crescente número de pacientes que sobrevivem a doenças graves. A alta da UTI era, até pouco tempo, utilizada pelos médicos como parâmetro para atestarem a melhora geral do paciente, entretanto, isto mudou.
"Percebemos que até metade dos pacientes que tiveram alta não conseguiam, até o período de um ano, retornar às suas vidas cotidianas, ao convívio social, ao emprego e a outras atividades normais. Percebemos também que boa parcela deles continuava sob cuidados de Home Care, o que impactava muito a vida da família, principalmente em relação à queda da renda mensal, quando o chefe da família é quem estava doente. Procuramos, então, formas de minimizar o problema para ajudar os pacientes e as famílias", afirma.
Segundo o médico, essa constatação mostrou que a alta da UTI nem sempre representa o desfecho desejado pelo paciente que esteve internado em estado grave. "Identificamos que o conjunto de alterações fisiológicas e psicológicas, a chamada Síndrome Pós UTI ou PICS [Post Intensive Care Sindrome], ocorria em grande parcela dos pacientes, em menor ou maior proporção. Então, há cerca de dois anos, passamos, da constatação do problema para as tentativas de minimizá-lo, o que se dá de duas formas: fazendo a prevenção de PICS durante a permanência do paciente na UTI e com intervenções terapêuticas após a alta", explica.
Ferramentas
Ele afirma que as ferramentas de redução da PICS são bem estabelecidas e têm eficiência comprovada. Entre as utilizadas no HSD estão: a mobilização precoce, reabilitação física, criação de ambiente saudável, contato com a família e acesso às informações sobre o que se passa com o paciente.
"Mas a intervenção que tem se mostrado particularmente eficiente é o Diário de UTI, que hoje é uma realidade nos países europeus e que adotamos pelos benefícios que traz ao paciente. É importante salientar que com esse trabalho, verificamos a necessidade do acompanhamento do paciente mesmo após a alta. Inclusive, a alta não finaliza o nosso trabalho. Damos continuidade, observando o paciente em casa, vendo suas necessidades e mantendo a assistência até que esteja realmente pronto para retomar sua vida normal. Deixamos as fronteiras do hospital e vamos para a comunidade dar continuidade ao tratamento do paciente", completa.
Protocolo
Para maior eficiência do trabalho de combate à Síndrome Pós-UTI, entre as quais, a disfunção cognitiva, o HSD montou, há cerca de um ano, uma equipe que cuida exclusivamente do assunto. Tal time ficou inclusive responsável por montar o Protocolo de Prevenção e Tratamento da Síndrome Pós-UTI, trabalho que está em andamento.
"O Diário de UTI integra uma das ações desse trabalho, inclusive já temos vários pacientes obtendo alta e levarão seus diários para casa para rememorar sua passagem pela UTI. É uma experiência pioneira do São Domingos e que inclusive esperamos passá-la para outros hospitais diante da sua eficiência na melhoria da qualidade de vida dos pacientes que passaram por uma UTI", conclui Dr. José Raimundo Azevedo.